um grito de socorro: minhas vizinhas, claudia priano.

22:13

SINOPSE:

Margherita sente-se perdida em meio às caixas que enchem a sala do apartamento novo. Acaba de sair de uma crise, mas ainda sente-se abalada. Percorre os cômodos, tentando pensar no que arrumará primeiro. De repente, um ruído baixinho, vindo do apartamento vizinho, a distrai. Parece ser uma mulher chorando. Cola o ouvido na parede e assusta-se com o que vem em seguida. Agora o barulho é forte e um homem grita, objetos se quebram, a mulher chora alto.
Incrédula e aterrorizada, fica sem saber a decisão certa a tomar. Bater na parede, ligar para a polícia, gritar com todas as forças. Poderia perguntar para Sergio, o companheiro com quem vai dividir o apartamento, mas ele está muito longe. Sergio é fotógrafo, correspondente de guerra, e neste momento cobre mais uma delas no Afeganistão. Ela então resolve confrontar os outros moradores do edifício, mas, para sua surpresa, recebe um sorriso cordial e dissimulado, como se nada tivesse acabado de acontecer, e hostilidade por parte da vizinha, Anna.
Margherita é a protagonista de Minhas vizinhas, primeiro livro da italiana Claudia Priano a chegar ao Brasil. Ao longo das páginas, a autora revela os segredos da personagem, uma escritora que procura afastar o fantasma da depressão ao se mudar, e sua lenta adaptação à nova realidade. Vai além, porém, ao tocar em um assunto complexo, a violência doméstica. Momentos de delicadeza e solidariedade entre mulheres intercalam-se com outros, violentos e assustadores, diante dos quais nem sempre é possível saber qual a melhor forma de agir.

Minhas vizinhas envolve o leitor desde a primeira página e instiga a reflexão, mesmo que não de forma explícita, sobre os vários tipos de dramas vividos por mulheres entre quatro paredes.


MINHAS IMPRESSÕES
Quando encontrei esse livro perdido em um sebo da minha região, levei pelo título e pelo preço (R$12,00). Não imaginei em momento algum que ele mudaria minha visão de inúmeros problemas que as mulheres sofrem, caladas, na sociedade.
Esse livro faz você ter a expectativa para que o agressor seja punido severamente. Esse livro marca um ponto importante na vida de uma mulher, que ao passar pelas mais diferentes humilhações encontra-se sozinha. 


As personagens conversam bem entre si. Margherita, a personagem principal, é quem faz o elo entre todas elas. Ao começar por ela mesma: uma mulher jovem que sofre com passado cheio de mortes, abusos e suas consequências. Viu a mãe, Lena, perder o marido e a partir daí, ruir seu mundo. Dentro do luto, Lena envolve-se com um homem, num primeiro momento, querido e que se torna abusivo. Após inúmeros episódios de violência psicológica, física e sexual, as coisas acabam tomando seu pior rumo.


Nesse momento aparece outra personagem que encontra-se o tempo todo em conflito interno: a prima Irene. Apesar de tratar Margherita sempre com muito desprezo, ela não a vê como uma insignificante e sim como privilegiada, apesar de tudo que lhe aconteceu no passado. Irene também provém de um ciclo infinito de abusos, por parte de homens mais velhos e é obrigada a não denunciá-los, quando adolescente. Particularmente, nesse momento me senti muito incomodada, porque sei que isso ainda é algo que acontece na nossa sociedade: a culpabilização da vítima. 


Mas, apesar de tudo isso, Irene é quem está lá o tempo todo com Margherita. Presencia, com ela, os ciclos de violência física que a vizinha de Margherita sofre. Os choros, os socos, os pedidos de perdão, tudo por entre as paredes. E sentem-se inúteis. Mas quem não? O sentimento nesse momento é de impotência. É de que você está vendo uma mulher ser agredida mas não pode fazer nada: seja por medo, seja porque ninguém vai acreditar em você, seja porque ela não entende que isso nunca vai acabar e se recusa a denunciar. São muitas variáveis que nos tornam impotentes em uma situação de violência.

Existem outras personagens importantes no livro, mas essas quatro foram as que mais me tocaram, porque representam a vívida sensação de ser mulher em um momento, em uma sociedade, que você não passa de um objeto de reprodução, de desejo, saco de pancadas, uma serviçal que é obrigada a mostrar-se satisfeita mesmo quando não está. Que é impedida de ajudar, que é mentirosa.

Ao ler esse livro, eu senti tudo isso na minha pele. Mas a autora não força isso. Ela vai narrando com palavras simples, com uma narrativa não muito complexa e que vai te levando a ler cada dia mais o livro, esperando pelo final feliz (ou não muito feliz, mas que pelo menos resolva a situação das personagens do melhor jeito).


Há algum tempo, eu faço parte de grupos e mais grupos no facebook sobre relacionamentos abusivos e já fui vítima de um. Muitas e muitas mulheres não têm coragem de admitir que precisam de ajuda e postam lá suas histórias e claramente, precisam de ajuda. Por que estou escrevendo isso? Porque dentro de uma relação doentia, as pessoas acabam se perdendo. O ser humano precisa de um referencial e quando esse referencial lhe é retirado (o contato com a família, com amigos, não fazer mais o que gosta) as pessoas têm duvidas do quão estão certas. Do quão sãs elas estão. E acabam dependendo emocionalmente de alguém que não são companheiras e sim, um pesadelo.


Quando eu ouço que uma mulher gosta de apanhar, ou gosta de sofrer, gosta de ser traída, etc, eu tenho certeza de que têm algo errado. Com quem diz e com quem acha normal esse tipo de coisa. Algumas mulheres não têm pra onde ir, não tem com quem contar, tem filhos, não tem dinheiro, acreditam até mesmo que são culpadas pelas agressões e que realmente merecem isso. Pensam também que o companheiro está numa má fase e que isso irá mudar. Não me permito julgar quem pensa isso, mas julgo que faz alguém sentir assim.

Julguemos o culpado. Faça o exercício de colocar-se no lugar do outro. Como a protagonista, de ouvir entre as paredes. A violência não é só física. É aquela pessoa que te ameaça se você sair de casa, é aquela pessoa que não deixa você ver sua família, é aquela pessoa que grita com você na rua, que te faz sentir inferior, que te obriga a fazer sexo, retém seu dinheiro, não te deixa estudar ou trabalhar. ISSO É UM RELACIONAMENTO EXTREMAMENTE TÓXICO E ABUSIVO. E quem o faz, não muda. Tende apenas a piorar.

Finalizo com uma frase que li numa crônica: o amor precisa fazer bem. Não pode deixar cicatrizes no corpo e nem na alma.


Recomendo esse livro para todas as pessoas que desejam compreender como é estar na pele de uma vítima de violência doméstica. Também recomendo esse livro para pessoas que compactuam com a luta pela equidade de direitos e que procuram um romance diferente que com certeza, ficará sempre na sua cabeceira.

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4 comentários

  1. Oi, Andreza!
    Eu conheço pessoas que passam por esse problema e que não conseguem perceber o quanto faz mal e como a pessoa não vai mudar por elas. É difícil, pois parece que quanto mais a gente tenta abrir os olhos da pessoa, menos ela te ouve.
    É um tema complicado e que deve ser discutido. Gosto de livros assim. Vou colocar na minha lista de leituras!
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

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  2. Oi, Andreza

    Não conhecia o livro e o assunto que ele aborda é mega relevante. Acho que nunca se falou tanto de abuso e o assunto nunca esteve tão em voga, vide o Globo de Ouro. Sinto muito por até mesmo você ter passado por um relacionamento abusivo. Essa deve ser uma história e tanto!

    Beijos
    - Tami
    http://www.meuepilogo.com

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  3. Gostei muito da sua resenha, todavia este livro não faz muito meu gênero, então não sei se leria. Ainda assim a história parece bem interessante!

    http://www.leitorasvorazes.com.br

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  4. Oi, Andreza!
    Primeiro queria dizer que fiquei bem feliz com o retorno do seu blog <3
    A respeito desse livro, já estou adicionando na minha estante do skoob para pesquisar preços e afins. É uma pena que muitas mulheres ainda sofram caladas diante aos abusos (físicos e psicológicos). Acredito que esse tipo de obra pode servir de incentivo pras mulheres denunciarem esse tipo de situação. Eu acompanhei toda sua trajetória através do seu Facebook, e sei que hoje você serve de inspiração para muitas mulheres que passam por isso - e que você se doa totalmente para ajudar quem precisa. Você vale ouro!

    Beijos e até mais!
    www.procurei-em-sonhos.com

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